domingo, 28 de julho de 2013

Psicopatas e sociopatas


Primeiro eu, depois eu, depois eu. Este dito popular pode descrever bem os psicopatas e sociopatas.

Estudos indicam que até 3% da população mundial podem apresentar características de psicopatas e sociopatas, que, na verdade, são termos equivalentes: psiquiatras definem as duas denominações como a mesma perturbação e a própria CID – Classificação Internacional de Doenças – publicada e revisada periodicamente pela Organização Mundial da Saúde incluem os dois distúrbios na mesma classificação: transtorno de personalidade antissocial.
Psicopatas e sociopatas
Desde que a mente humana começou a ser estudada cientificamente, a partir da segunda metade do século XIX, houve muita confusão na definição de psicopatas e sociopatas: os primeiros teriam problemas de relacionamento interpessoal, enquanto os segundos exerceriam algum tipo de opressão ou tirania sobre todo um grupo social.
Hoje, no entanto, que as características do distúrbio são idênticas: desprezo pelos direitos, sentimentos e desejos do outro, desprezo pelas normas sociais e, principalmente, comportamento impulsivo, que leva a comportamentos inadequados e até criminosos: estima-se que até 66% da população carcerária apresentam características psicopáticas ou sociopáticas. Um estudo realizado entre os 50 assassinos em série presos nos EUA indica que 90% deles apresentavam sinais do transtorno.


A evolução do distúrbio

Os portadores do transtorno são incapazes de revelar alteridade e empatia, ou seja, não conseguem se colocar no lugar do outro: se querem algo, simplesmente o tomam. A estruturação antissocial costuma ter início ainda na infância e, por isto, é importante estar atento a condutas inadequadas de crianças e adolescentes, especialmente os oriundos de famílias desestruturadas, apesar de não haver indícios de hereditariedade.
Maus tratos familiares, desamparo, autoritarismo e violência doméstica, quando associados a determinadas características anatômicas, como a produção excessiva de serotonina (hormônio relacionado à sensação de bem estar, mas também à agressividade e impulsividade) e a redução da massa cinzenta na área pré-frontal do cérebro, podem disparar este transtorno de personalidade.
Crianças que maltratam animais, mentem demais, são pouco tolerantes a situações de frustração, não desenvolvem laços adequados de amizade, gostam de manipular situações em benefício próprio – mesmo que isto cause prejuízos diretos e imediatos terceiros, como irmãos e colegas, por exemplo – devem ser acompanhadas por um psicólogo.
Estes comportamentos, classificados como transtornos de conduta, podem ser eliminados com a orientação firme e próxima da família. São condutas aprendidas e, como tal, podem ser desaprendidas. Se elas se instalarem, no entanto, ao atingir a idade adulta, os portadores se revelarão manipuladores, sedutores, incapazes de desenvolver sentimentos como afeição e amor. Ao mesmo tempo, terão desenvolvido técnicas apuradas para disfarçar estas inadequações: ao se sentirem observados, adotarão atitudes consideradas adequadas pela família e colegas ou mesmo pelo grupo social.
Psicopatas e sociopatas dificilmente conseguem organizar uma carreira profissional ou manter relacionamentos amorosos de longo prazo. As frequentes mentiras, omissões ou distorções dos fatos tendem a mantê-los isolados ou pouco integrados.


O diagnóstico

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês) relaciona uma série de sinais que indicam o estabelecimento da personalidade psicopática ou sociopática. A avaliação é feita por um psiquiatra ou psicólogo e o estudo de caso deve revelar a presença de ao menos três dos seguintes sintomas:
fracasso em se conformar às regras sociais na família, na escola e mesmo em atos criminais; impulsividade em lugar da capacidade se seguir planos ou roteiros; desrespeito pelos pais e outras figuras parentais; incapacidade de conviver com animais de estimação; ausência de remorso, após ter ferido ou lesado alguém; tendência para enganar ou mentir excessivamente; falta de comprometimento com as tarefas cotidianas, no trabalho, em casa ou na escola; desatenção a regras de segurança, em relação a si próprio ou a terceiros; irritabilidade e agressividade, marcadas por agressões físicas e verbais frequentes.
Para o diagnóstico, é importante obter o histórico familiar, para verificar se os transtornos de conduta surgiram antes dos 15 anos, e também para verificar se o comportamento antissocial não está relacionado a crises de esquizofrenia ou episódios maníacos, que caracterizam outros distúrbios psiquiátricos.
O teste de psicopatia de Hare, desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert Hare, que também deve ser aplicado por profissionais, em ambiente adequado, é uma escala (de zero a dois) que identifica a capacidade de desenvolver sentimentos morais, como o remorso ou a gratidão. O terapeuta analisa a presença do narcisismo agressivo (sedução, manipulação, insensibilidade), adoção de estilos de vida desviantes (falta de metas plausíveis no médio e longo prazos, irresponsabilidade, necessidade constante de estimulação) e estilos comportamentais pobres (tendência ao crime e à reincidência). A promiscuidade sexual e a incapacidade de manter relacionamentos conjugais também são avaliadas.
Hare compara o portador do transtorno de personalidade social a um gato, que não pensa no que o rato sente; pensa apenas na sua fome e nos meios de saciá-la. A vantagem que o rato pode obter é saber quem é o gato, ou seja, a sociedade, em todos os seus níveis, pode se proteger dos psicopatas e sociopatas identificando-os e tratando-os.


O tratamento

A terapia cognitiva comportamental tem sido o principal tratamento adotado para corrigir ou amenizar o transtorno de personalidade antissocial. Não existem estudos suficientes sobre o sucesso do tratamento na população comum, mas relatos empíricos de terapeutas indicam que é possível aos pacientes aprenderem a identificar os sintomas e a lidarem com eles.
Já entre pessoas que cometeram crimes, as psicoterapias auxiliam a reduzir entre 20% e 30% os níveis de reincidência. O tratamento não altera a personalidade, mas fornece elementos para o controle dos impulsos e para a reflexão sobre os atos praticados.
Casos graves exigem a adoção de medicamentos como neurolépticos, sais de lítio, antidepressivos, benzodiazepínicos, psicoestimulantes e anticonvulsivantes. O tratamento medicamentoso isolado, no entanto, não apresenta resultados consistentes, mesmo porque a maioria dos pacientes o abandona ou negligencia.
A maioria dos psicopatas e sociopatas costuma apresentar outros problemas de saúde mental, como hiperatividade, síndrome do pânico, maior tendência à depressão, ao abuso de álcool e drogas ilícitas e transtornos de ansiedade. É preciso tratar também estas doenças paralelas, para permitir o desenvolvimento de uma vida pessoal e social adequada e produtiva.


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